Venham Mais 5, uma exposição de fotografias sobre o 25 de Abril de 1974
Em Almada, fotografias originais da Revolução Portuguesa do 25 de Abril
No antigo bairro industrial de Almada, um espaço bruto e quase esquecido acolhe a
exposição Venham Mais Cinco. Uma imersão nos tumultos do Processo Revolucionário em
Curso (PREC), através das lentes de fotógrafos estrangeiros que, muitas vezes, chegaram aqui
por acaso.
Alguns repórteres descobriram os acontecimentos da Revolução de 25 de Abril de 1974 por
puro acaso. No entanto, a exposição lança luz sobre um momento-chave da história
portuguesa e europeia—uma revolução militar e operária que pôs fim ao regime de Salazar e à
mais longa ditadura da Europa.
A exposição está patente até 24 de agosto, num local inesperado: o antigo Parque
Empresarial da Mutela, de frente para a Lisnave, uma zona industrial abandonada convertida
em espaço de memória.
Uma revolução vista por quem não era daqui
Um olhar exterior sobre a revolução. Cerca de trinta fotógrafos—franceses, italianos, holandeses, brasileiros e checos—captaram, entre 1974 e 1975, os sinais de um Portugal em
transformação.
Não são imagens de manual, nem fotografias esperadas. Revelam um país em tensão, entre a euforia nas ruas e as desilusões que se aproximavam.
Os seus registos contam o regresso dos exilados, os primeiros debates livres, o campo transformado pela reforma agrária, e os jovens soldados à espera—por vezes, perdidos.
Alguns, como Henri Bureau ou Jean-Claude Francolon, eternizaram as primeiras horas daRevolução. Outros, como Fausto Giaccone ou Paola Agosti, captaram gestos, rostos,
silêncios.
Uma memória sensível, longe dos manuais
O fotojornalista de guerra Alain Minguam, cujas imagens estão expostas em Venha Mais 5, participou na inauguração.
Contou “a sua” revolução enquanto repórter. As suas fotografias
estão expostas ao lado do curador.
Chegado logo após a entrada dos militares em Lisboa a 25 de Abril de 1974, prestou homenagem ao seu amigo Sebastião Salgado, falecido a 23 de maio
de 2025, também autor de algumas imagens expostas.
Para Minguam, foi essa Revolução de Abril que os formou como fotojornalistas. Pela primeira vez, os dois homens partilharam tamanha humanidade. Ao apresentar Venha Mais 5,
Minguam lembrou que “o nosso trabalho enquanto jornalistas é defender a democracia, ontem
como hoje”—através de trabalhos de memória como esta exposição.
Venham mais 5 apresenta uma visão fragmentada e livre—à imagem dos acontecimentos que retrata. Evita narrativas lineares. Não se trata de ensinar, mas de fazer sentir.
As imagens têm legendas mínimas. O visitante é convidado a circular, associar, refletir.
O que se mostra aqui é o tumulto de um povo a procurar-se, a inventar a democracia, a sair de quase 50 anos de opressão.
A Revolução Portuguesa surge como uma matéria viva, caótica e
frágil.
Atravessar o Tejo para outra perspetiva
Almada oferece aqui um desvio aos roteiros habituais, a poucos minutos de ferry desde o Cais
do Sodré.
O Parque da Mutela, junto aos antigos estaleiros da Lisnave, fica a menos de meia hora a pé do cais do Ginjal.
A exposição é um apelo à memória, mas também uma homenagem àqueles que souberam ver,
de fora, a intensidade de um momento que os portugueses viviam por dentro.
A escolha do local é acertada. O bairro operário de Almada, com os seus prédios e ruínas
junto ao Tejo, lembra a importância das classes populares nesta revolução e presta-lhes homenagem.
Uma certa nostalgia paira sobre Venha Mais 5. O título vem de uma canção de Zeca Afonso,
que deveria dar o sinal para o início da Revolução. A música estava proibida e foi substituída pela célebre Grândola Vila Morena, do mesmo autor.
E se Lisboa, em Junho, vibra com os cânticos dos arraiais populares, Venham Mais Cinco recorda-nos outro tipo de festa: a da liberdade reconquistada e do arrepio único de um
povo que toma o seu destino nas mãos.
para www.lisbonne-affinités.com a exposição recomenda-se
“Venham Mais 5” informado
Exposição: Venham Mais Cinco – O olhar estrangeiro sobre a Revolução Portuguesa
(1974–75)
�� Local: Mutela, Almada
⛴️ Acesso por ferry desde o Cais do Sodré (paragem: Cacilhas), depois a pé ou de
autocarro
�� Até 24 de agosto de 2025
�� Recomendado para quem quer ver Portugal de outra forma
artigo redigido pela Delphine Beuzen