Em La Mancha, Espanha, a Páscoa e as suas tradições preservadas.

Espagne Calatrava

                                               Semana Santa na região de Calatrava

A paisagem é de cortar a respiração. Os campos até onde a vista alcança estão salpicados de manchas rochosas, não muito altas, mas muito presentes.

Estas mini-montanhas são, na realidade, antigos vulcões. A região na fronteira entre a Andaluzia e Castela tem pelo menos 350 deles.

A planície de Calatrava, esta região fértil de Espanha perto de Ciudad Real, no oeste de Madrid, está cheia de surpresas.

A começar pela sua Semana Santa. Se o esplendor dramático das celebrações andaluzas e outras é bem conhecido, as festividades de Calatrava não o são tanto.

A “Rota da Paixão de Calatrava” (Ruta de la Pásion Calatrava, na sua versão original) é um circuito que reúne 10 aldeias e vilas da região. O que todas elas têm em comum é o facto de celebrarem a morte de Cristo de uma forma muito especial.

São momentos intensos de recolhimento e curiosidade. Os habitantes da região são simultaneamente actores e espectadores.

O sítio www.lisbonne-affinités.com visitou a região de Calatrava a convite da Ruta da Pásion Calatrava https://www.rutadelapasioncalatrava.com/

e aqui estão os destaques desta semana tão especial (da Quinta-feira Santa ao Domingo de Páscoa)

ruta da Pasion Calatrava

                          Os romanos: um tesouro local de carne e osso

As legiões romanas invadiram Calatrava. Na região, são conhecidos como “armaos”, aqueles que estão armados. São uma constante na animação da Semana Santa

Usam armaduras pesadas e capacetes com penacho de várias cores. O traje é incómodo. Peso total? Ninguém sabe exatamente. Mas os “armaos” têm de permanecer assim vestidos durante longas horas, participando nas cenas da paixão e acompanhando depois as procissões.

Um armão percorreu 40 km seguidos vestido assim! Mas os homens e mulheres das aldeias e cidades da Paixão de Cristo de Calatrava não se queixam. Cumpriram a sua missão com fervor e serenidade.

A presença de tropas do Império Romano remonta ao século XVIII. Uma visão barroca do mito fundador do cristianismo. Para dizer a verdade, não sabemos exatamente.

Os “armaos” não estão presentes em todas as dez aldeias ou cidades do Caminho da Paixão. Mas a sua presença dá um toque de pompa às cenas da paixão recriadas.

É o caso de Almagro e do seu lendário “caracol”, ou de Aldea del Rey e da sua prisão de Jesus.

www.lisbonne-affinités.com leva-o às aldeias da Paixão.

Ruta da Pasion Calatrava

                                   Impressionantes reconstituições em tamanho real

A Paixão de Calatrava recria os últimos dias da vida de Cristo. Destacam-se as cenas que acompanham os suplícios, a traição de Judas, a venda da sua túnica e a dor da Virgem Maria.

As dez localidades que compõem a Rota da Paixão de Calatrava são Aldea del Rey, Almagro, Bolaños de Calatrava, Calzada de Calatrava, Granátula de Calatrava, Miguelturra, Moral de Calatrava, Pozuelo de Calatrava, Torralba de Calatrava e Valenzuela de Calatrava. Todas elas têm as suas particularidades

Judas, o traidor. Aldea del Rey (Quinta-feira Santa)

A pequena cidade de Aldea del Rey é o cenário da traição de Judas para vender Jesus aos romanos. Numa das praças da cidade, os “armaos” fazem uma demonstração de força e Judas negocia a sua traição.

Os romanos percorrem então as ruas adjacentes a um ritmo muito lento, antes de se dirigirem para outra praça transformada no “Jardim do Getsémani”, onde Judas beija a imagem de Jesus. Os armaos efectuam a prisão, e o “pasos” de Jesus carregando a sua cruz é depois enquadrado pelos romanos em procissão pela cidade.

O beijo de Judas. Bolaños de Calatrava (Quinta-feira Santa)

No final da tarde, o ponto alto das celebrações tem lugar na localidade de Bolaños. Aqui, Jesus recebe o beijo de Judas. Os “armaos” correm para o prender e conduzi-lo simbolicamente à crucificação. Laços para amarrar Jesus, a espada para o apontar, o cortejo de soldados romanos… nada falta nesta reconstituição. É uma das mais comoventes.

                                                 O jogo dos rostos. Um interlúdio pagão. Pozuelo de Calatrava

Pozuelo tem uma tradição surpreendente. Contrasta com a própria paixão, com os seus símbolos e com os seus soldados incansáveis. De facto, os habitantes jogam aos dados e apostam dinheiro no meio da rua.

O ritual é espantoso. Em torno de círculos desenhados no chão, os apostadores colocam a quantia que pretendem à frente dos pés. O homem que dirige o jogo e o seu acólito, que constituem a banca, duplicam a aposta.

Em seguida, um homem, o baralhador, lança duas moedas ao ar. As duas moedas devem apresentar o mesmo resultado. Se for a cruz, os apostadores ganham com um grande clamor. Se for a cara, a banca recolhe todas as apostas.

A referência é clara: trata-se da história da venda da túnica de Jesus por um soldado romano.

Em Pozuelo, é permitido jogar a dinheiro sob o controlo da Câmara Municipal e da polícia municipal.

O ambiente é de alegria. Toda a gente joga: famílias, jovens, homens e mulheres, e os mais velhos, cujo jogo conduz por vezes a ganhos substanciais.

Um estranho lançamento de moeda em plena Semana Santa

pasion calatrava

                                               Almagro, um caracol e as mantilhas

A cidade de Almagro, capital da região de Calatrava, é um antigo reduto de guarnição. Não dos romanos, mas dos soldados da ordem religiosa de Calatrava.

A bonita cidade está repleta de belas mansões, igrejas e conventos. Além de outros tesouros patrimoniais. Convidamo-lo a ler o segundo artigo sobre Calatrava.

Almagro apresenta o que é, sem dúvida, o ponto alto das celebrações da Páscoa, com dois momentos de grande riqueza visual e emocional.

      O Caracol. Caracol de Calatrava (Sábado Santo)

Um espetáculo impressionante. O exército romano entra na praça principal de Almagro a um ritmo acelerado. As filas de soldados separam-se, depois encontram-se, cruzam-se e contornam-se umas às outras. A coreografia é impecável e hipnótica.

Altamente treinados, os armaos não cometem erros. A homenagem prestada àqueles que mataram Jesus pode ser uma surpresa. Mas é uma expressão de força e de coragem.

     Procissão das Mantilhas. (Sábado Santo)

É a vez das mulheres e das suas mantilhas. Vestidas de preto, participam numa procissão em honra da Virgem Maria, mãe de Cristo.

Com mantilhas de renda preta presas a imponentes pentes, seguram uma vela nas mãos.

São acompanhadas por mulheres encapuzadas.

A procissão percorre o centro de Almagro a um ritmo lento e contido. A procissão dura 3 horas atrás de uma enorme estátua da Virgem vestida com um longo manto bordado.

Uma das procissões mais comoventes.

                                 As “Hermandades”, uma ligação espiritual e humanista

As Hermandades ou “irmandades” eram originalmente grupos de homens armados para ajudar os cidadãos a defenderem-se dos ladrões.

Uma força policial que evoluiu ao longo dos séculos.

É também uma fraternidade, um grupo cristão.

E as hermandades conservam hoje esse papel, mesmo que tenham tendência para se secularizarem.

Sem elas, não haveria procissões durante a Semana Santa. As pessoas participam porque são membros, por convicção ou por tradição.

As festividades da Páscoa, com as suas magníficas e emocionantes

procissões, são uma tradição que a região de Calatrava quer que as pessoas descubram.

Para mais pormenores, visite https://www.rutadelapasioncalatrava.com/.

Calatrava tem também um património muito interessante.

Veja a nossa secção dedicada a outros tesouros da região.